A moda é uma forma de se expressar que também diz muito sobre o lugar de onde você vem. Na moda da periferia, não seria diferente: ela vai muito além de estilo e estética, representa também resistência e identidade.
Nomeado de "Estilo Periférico", esse modo de se vestir reúne roupas usadas por pessoas que vivem nas margens da cidade. Um estilo que se popularizou, tendo como grandes referências justamente quem vive nesses espaços. Esse estilo já foi e ainda é, em menor escala marginalizado, visto com maus olhos por quem não faz parte do movimento. Algumas escolhas podem até parecer estranhas ou sem sentido para quem está de fora, mas carregam significados profundos.
Algumas polêmicas já foram criadas por causa desse estilo. Em 2023, as gêmeas Tasha e Tracie Okereke, cantoras de trap, foram duramente criticadas ao comparecerem a uma premiação usando roupas consideradas "inadequadas". Isso porquê não vestiam o que geralmente é esperado nesses eventos — como vestidos caros ou marcas de alta costura —, mas sim marcas muito conhecidas nas periferias. Aquelas roupas significavam muito mais do que pareciam: tinham valor sentimental e representavam a vivência delas. As gêmeas já declararam diversas vezes que queriam vestir o que as fazia se sentir bem e o que realmente as representava.
Esse estilo tem como objetivo valorizar aquilo que se veste e tornar possível conquistar, o que um dia, foi apenas um sonho distante por falta de condições financeiras. Ele aparece fortemente nas letras de músicas populares nas periferias, como o funk, o rap e o trap. O 'funk ostentação', por exemplo, fala exatamente sobre isso: o desejo de ter aquele famoso tênis, aquela bolsa de marca, os óculos estilosos ou aquela blusa desejada. Mais do que valor financeiro há um valor emocional, o sentimento de poder finalmente ter aquilo que sempre quis.
Algumas marcas são fortemente associadas a esse estilo, como Oakley, Lacoste, Cyclone, Mizuno e Nike. Elas têm um grande simbolismo dentro dessa estética. Nem sempre, porém, as peças usadas são originais; muitas réplicas (nome dado às peças de “marca” falsos), são utilizadas com frequência.
Essa estética é rica em diversas referências: o próprio funk, a influência das comunidades negras, o samba, uma mistura do novo com o retrô e até elementos de outros estilos. O fato é que a moda de periferia tem um papel importantíssimo na vida de jovens periféricos. Ela pode ser vista até como um meio de salvação, uma forma de se afastar de caminhos difíceis. Muitos jovens a adotam como maneira de se expressar e de encontrar refúgio.
A moda periférica está crescendo, ganhando visibilidade e sendo cada vez mais valorizada no meio da moda nacional e internacional; e além desse estilo devolver a autoestima, ele também tem o papel essencial de gerar renda e mostrar o grande potencial desses lugares em criar novas estéticas, tendências e valores.
Por: Thifany Herminio
Revisão: M. Eduarda Barboza