Nesta terça-feira (13), foi dada a notícia que muitos já esperavam, mas que ninguém queria ouvir: Pepe Mujica se foi deste plano. Nunca serei capaz de dizer que Pepe faleceu — só morre quem é esquecido. E, em cada batalha social, em cada luta pelos direitos dos mais humildes, dos esquecidos e dos marginalizados, ele seguirá vivo no coração de cada lutador social.
Antes de se tornar o “Pepe de la gente”, precisamos lembrar de José Alberto Mujica Cordano, um homem simples, nascido no cantão de Montevidéu, em 20 de maio de 1935, de origem basca e italiana. Mal sabia aquele chiquitito que se tornaria um dos maiores lutadores sociais da história da América Latina.
Gosto de enfatizar a expressão “lutador social”, pois era assim que ele se definia. Detestava palácios, formalidades e regalias. Foi no passado de guerrilheiro tupamaro que conheceu sua companheira de batalhas — primeiro armadas, depois políticas — Lucía Topolansky. Foram parceiros até a sua última batalha.
Com o golpe de Juan María Bordaberry, em 1973, o casal se viu encurralado. Companheiros foram mortos ou desapareceram. Ainda assim, não se deixaram abater e seguiram acreditando em uma América Latina unida, popular e solidária. Mujica não teve filhos, mas deixou incontáveis herdeiros com seu exemplo de vida.
Com a redemocratização, fundaram o Movimento de Participação Popular (MPP), e Pepe logo se destacou: foi deputado e senador por Montevidéu e, depois, venceu a batalha mais simbólica de sua trajetória — a chegada à presidência do Uruguai. Em 2009, com apoio da Frente Ampla e após o governo de Tabaré Vázquez, Mujica venceu as eleições com 54% dos votos, superando Luis Lacalle Herrera.
Foi uma vitória celebrada por toda América Latina. Ao contrário de seu ídolo Fidel, Pepe chegou ao poder pelo voto — com Danilo Astori, um moderado, como vice, para acalmar o mercado financeiro. Conquistou o mundo com sua simplicidade: sem protocolos, sem ternos, sem luxos. Sempre esteve ao lado de quem mais precisou — os pobres, os esquecidos.
Detestava a fama, recebia a todos no seu rancho e saía no seu Fusca azul claro por Montevidéu inteira, correndo bairro a bairro e pueblo a pueblo. Quando questionado sobre ter tão poucos bens, respondia com riqueza intelectual e lições de vida que seguem inspirando jovens a lutar por seus ideais, independentemente da posição política.
Ao descobrir um tumor no esôfago, seguiu lutando — já sem a mesma força física, mas com as ideias tão vivas quanto antes. Em janeiro de 2025, decidiu parar o tratamento. Nunca temeu a morte. E, apesar das frustrações de alguns sonhos juvenis, Mujica morreu em paz consigo mesmo.
Nunca esquecerei sua frase: “A política não deve ser uma profissão da qual se vive, deve ser uma paixão pela qual se vive”. É assim que recordarei Pepe: livre de preconceitos, estereótipos e vaidades, mas sempre perto do que o povo precisava que fosse realidade.
Até a vitória, companheiro! E que venham mais pessoas como você para a luta social, popular e democrática.
Texto: Gustavo Novais Brasilino
Edição: Gustavo Novais Brasilino
Revisão: Victor Souza